Ser Presente
O conflito é o núcleo da maior parte das ações. Também posso praticar ação, sem estar necessariamente em conflito. Em todos os tempos o homem quase sempre esta em situação de conflito existencial, seja com ele mesmo, com o outro, com o estado, normas, educação, ou com a natureza em si. Imaginar um mundo sem conflitos?! No ocidente para a maioria das pessoas esse estado “Vazio”, de ausência do conflito, é motivo de fuga para a grande maioria. Poucos conseguem curtir momentos com uma mente esvaziada, de não pensamento, de não ser, mais focado apenas no corpo físico em si. Estar no aqui agora apenas com os sentidos, sensações, ou sentimentos que o corpo proporciona de forma orgânica, faz parte, e é complementar a vida na sua totalidade. Para mim, qualquer ação visceral nasce após o esgotamento dos conflitos. O vazio é como uma tela branca, é o pós-guerra, age como uma adubação da terra por onde brota ações físicas consistentes, e sinceras. Um ator só consegue estar no palco e inteiro, quando evita a fuga através da verbalização excessiva, e desculpas sem sentido. Ou consigo integrar este vazio a vida, recriando com este de forma complementar, ou vou continuar atuando seja onde for de maneira periférica, dividido e ansioso. Não dá para ficar para sempre solicitando apoio de fora. A situação verdadeira surge quando fico responsável pelo meu próprio apoio. Quando desejo criar uma obra, ou um projeto qualquer, isso só pode depender de mim, fora disso não há sustentação. O ator que depende sistematicamente da platéia para atuar, nunca vai conseguir ser inteiro. É o estar consciente de si mesmo que vai proporcionar ao atuante a experiência do gesto total. O ser não dividido proporciona a situação orgânica necessária. A consciência corporal é a base que sustenta a explosão da ação visceral, onde pensamento e corpo são um só. Se tiver o vazio como parte consciente e complementar da situação no presente, evito a fuga, e deixo o desenho da existência brotar de forma natural. Seja na atuação de palco/artística, ou no cotidiano deixo-me no fluxo da consciência orgânica, este ato contribui para uma existência menos dolorosa. No oriente, para muitos o vazio é um estado de pura naturalidade, é mais comum para eles esvaziar a mente do quê para nós ocidentais. Cultivar momentos de apenas estar no presente com o cálice desocupado é o que chamo de estado de graça; é o ser completamente integrado ao todo, inteiro.
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