Ritual e rotina, a vida é apocalipse.

    Todo ritual vira rotina, e não me venha com essa de que ritual é essência e rotina condicionamento. Tanto um como o outro com o passar do tempo terminam na chata mecânica do eterno retorno apocalíptico, a morte. Quantas religiões já nasceram e morreram, a própria igreja católica assiste sua agonia quando igrejas pelo mundo são transformadas em espaços culturais, a fé é trocada pela ilusão porque falha, a realidade do cotidiano é mais forte que a fé. Essas historinhas de ets, espíritos e deuses são escapes, mentiras criadas pelo homem pra se livrar do desespero da solidão cósmica. O deserto vira verde e o verde deserto, a natureza não se renova, a cada ano é a mesma grama, igual dna que cresce depois da seca, um ciclo que se repete eternamente. A poeira cósmica vira gente e  a pessoa retorna ao pó. Daí a amnesia, uma defesa do organismo, o cara esquece querendo ou não que já sofreu e viveu certas experiências, daí pensa que tudo é novo de novo. O fingimento é arte, porque a arte é ilusão, uma grande mentira inventada pra tirar a gente do poço sufocante da realidade cruel e impiedosa, e que funciona porque queremos ser enganados, me engana que eu gosto. A terra é uma banheira viajante lotada de lágrima e sangue dos desesperados sacrifícios em busca da verdade morta. A arte faleceu há séculos porque não sabe mais fingir o novo. Toda ação física já nasce morta porque assim que aparece na superfície visível morre. Não existe o novo, tudo é velho e repetitivo assim como este texto que fica chato depois que escrevo. Os rituais sagrados são repetições de séculos, coisa medíocre que fala de um amor morto, remédio que não tem mais efeito. Uma peça de teatro quando estreia dá uma sensação de novidade basta algumas apresentações em cartaz e vira defunto que o elenco não suporta carregar, e o público desaparece.  O casal que vive o amor, um dia descobre no outro o funeral da relação repetitiva, mesmo com toda força que fazem pra reinventar o principio do prazer. As drogas que iludem com bem estar mina o sujeito até virar escravo, o cara fica na busca do primeiro êxtase que jamais retorna. Dor e prazer alimentam um ao outro. O homem já tentou de tudo pra fazer da vida um dia novo em cada ação física, mas tudo não passa de ilusória novidade. O novo já existiu um dia e foi só um instante, o primeiro nascimento, depois foi repetição mecânica e morte. O ano novo é uma ilusão que criamos pra sair do apocalipse do eterno retorno, dos espaços vazios multiplicado  no cotidiano e universo. Estamos fadados a viver falando apenas com nós mesmos, o homem é o simbolo maior de solidão, eternamente condenado a se ver multiplicado no espelho do outro. Daí esse desespero pelo poder e dinheiro como se isso o tirasse do sufoco tenso rumo ao apocalipse. Tudo acaba na tremenda busca pelo novo que já foi há muito tempo. O artista é o cara que mais vive essa melancolia porque pra fazer seu trabalho é obrigado a ver a realidade, e na busca da real depara com a morte viva da prisão eterna, a mecânica do condicionamento. A vida é a morte vivida de carne e osso queimando no cotidiano. O cotidiano fede a carne queimada e apodrecida.Viver o novo é ilusão artística, a falsidade real. O homem passa uma vida inteira na mentira, na enganação afim de tornar o ritual morto da vida em algo genuíno. Criamos todo tipo de parafernália existencial, fuga, escape, sublimação pra criar o novo que só vive de mentira. Ainda tem dúvida sobre o apocalipse que vivemos hoje? Eu não. E foi daí que resolvi ser artista, um especialista na enganação ilusória, no desespero de sair das prisões sucessivas do eterno retorno das janelas vazias.

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