Rebeldia e Revolução em Artaud Esta Mais Atual do Que Nunca.

       Focar e refletir no teatro de Antonin Artaud, o que sinaliza para a rebeldia como  instrumento de deflagração de uma revolução pessoal e social. O objetivo é recriar o sistema vigente e injusto de hoje. Esta tese se aplica ao momento atual de crise, onde sujeito    e sociedade estão atolados na lama financeira e social. Vivemos uma crise existencial onde discutimos novos rumos para a humanidade  em uma escala global. E nada melhor que falar de Artaud agora, como alerta para uma certa epidemia hipócrita e corrupta no comportamento do homem e social.   Acredito que uma nova ordem surge quando um grupo ou classe social unidos  por um ideal vencem normas injustas. E um dos instrumentos mais eficazes para a deflagração do conteúdo de um ideal revolucionário é a rebeldia de conteúdo artístico, útil e eficaz. Assim vejo na obra de Artaud, especialmente no livro o Teatro e Seu Duplo, as condições vitais mencionadas, a fim de obter o sucesso de uma revolução.   Falar de Antonin Artaud sempre gera polêmica, há algum tempo pesquiso suas teorias, nesse meio tempo tive oportunidade de ver filmes que ele atuou, palestras com estudiosos, li livros e observo tentativas de interpretação do seu Teatro da Crueldade, e são muitos os pontos de vistas diferentes e complementares ao dias atuais. Comecei a entrar no universo Artaudiano no Curso para Atores da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), onde formei em 1992. No segundo ano de curso, interpretei Artaud, uma montagem dirigida por Rogério Vieira e foi uma experiência marcante. No ano de 1999, eu estava treinando no CPT (Centro de Pesquisa Teatral) coordenado pelo Antunes Filho, então, resolvi investir no projeto inspirado também em Artaud, apresentei algumas vezes para público de São Paulo. Em 2001 apresentei na sala Omega do SESC Consolação, SP. Fiz intervenções de rua, restaurantes, festas e Universidade. Sempre houve repercussão quando apresentei esta obra, considero este monólogo como um laboratório para checar a minha evolução na pesquisa teatral e pessoal. Como já disse, tenho empatia com o teatro, humano, orgânico, útil e eficaz. Esse olhar especial sobre as artes,  gera sintonia com pessoas que também tem interesse na obra de Artaud.  Mesmo que ficasse aqui dias escrevendo sobre Antonin Artaud, não seria capaz de atingir a essência das visões do Teatro da Crueldade.    No livro “O Teatro e Seu Duplo”, observo um pensamento que mais se assemelha às visões dos profetas bíblicos, cada unidade do livro possui a luz de um pensamento de um homem apaixonado pelo que faz, determinado,envolvido com a revolução teatral e humana. Ao longo do tempo pude formar uma opinião consistente sobre Artaud e a atualidade destes pensamentos. O tempo esfria a critica exaltada sobre Antonin e  faz opinar com bom senso sobre sua obra. Quando assisti a inesquecível montagem de “Artaud” interpretado por Rubens Corrêa no Teatro Municipal de Ouro Preto MG, pude fazer uma analise com as peças de “Artaud” que atuei, e descobri algo em comum nestas obras, uma força secreta, visceral, que vai além do texto, atinge o nosso sentido e causa uma espécie de hipnose.“O verdadeiro teatro sempre me pareceu como um exercício de um ato terrível e perigoso” Artaud Esta frase indica o comprometimento que o artista tinha com o seu oficio, algo envolvente e determinado, uma busca pela criatividade elevada que é capaz de mexer com conflitos complexos e profundos, uma necessidade de ir além das máscaras cotidianas, espécie de rebeldia que gera uma revolução pessoal e coletiva. É preciso coragem para trabalhar nas próprias feridas, parece-me terrível e perigoso buscar enxergar o homem como um todo e não basta apenas saber de determinadas mazelas ou resolver problemas teóricos, o laboratório empírico é fundamental e deixar a intuição no livre fluxo uma regra básica para abrir as comportas do instinto e enfrentar as reais conseqüências das nossas opções, afinal, a sociedade não é nada liberal e almejar uma libertação é quase um suicídio e na época de Artaud pior ainda, mas para um artista que quer atingir a arte verdadeira, isso se torna um “dever”. Neste caminho de superação o perigo esta sempre por perto, principalmente para quem necessita atingir a lucidez, não é nada fácil dar um salto de qualidade de vida, pior ainda é continuar na hipocrisia, ainda hoje vejo uma sociedade receosa de dar passos libertadores, na maioria das vezes, as pessoas são empurradas para situações conflituosas que acabam por propiciar ao homem uma condição elevada, ou trágica, mas por livre iniciativa, poucos são os homens que se esforçam para atingir o melhor modelo, para isso torna-se vital arriscar algo de valioso para buscar aquele fogo de Prometeu, custa caro ir de encontro ao inconsciente para buscar oxigênio, fundamental em nossa renovação, ou corri-se riscos, ou permanecemos no desconforto da cegueira, é crucial ter a iniciativa para não virar marionete, não há razão em ver a própria natureza nos jogar para a real, vejo dor em demasia nisso, pior é ficar na mediocridade e viver sufocado pelas máscaras, assim esta resistência contra a hipocrisia me sintoniza com artistas que utilizam os elementos das Artes como um veículo para o sublime. Entretanto, as opiniões sobre o motivo que teria conduzido Artaud a pesquisar uma arte visceral são muitas.“O teatro é o local e o ponto onde podemos nos apropriar da anatomia do homem e através dela curar e dominar a vida.” Ir além para atingir a cura eficaz e posso até arriscar a dizer que Artaud experimentou uma arte com poder do xamanismo, em varias passagens o artista exalta ou amaldiçoa os feiticeiros, médicos, rituais, e num tom sempre profético, entoa cantos e danças a fim de encontrar as raízes primitivas, isso me lembra um encontro com Grotowski, onde entendi que é preciso buscar os ensinamentos dos nossos ancestrais e que o arcaico é vital para quem deseja se encontrar, e para quem ainda não descobriu a própria religião, deve aprender a praticar na religião dos pais e avós. Sei que alguns artistas e antropólogos vão de encontro a determinados rituais, Artaud, foi ao México e vivenciou o ritual do Peiote, e Grotowski na sua primeira visita ao Brasil, quase não falou de teatro, estava mais interessado no Candomblé brasileiro. Após anos de pesquisas neste caminho, vejo claramente a verdade destas transmissões, mais uma vez me coloco na condição de cúmplice de alguns artistas, porque não deixa de ser marcante vivenciar um ritual de raízes, esta prática traz em si algo de revelador, forte e com certeza expande a nossa consciência, afinal, a arte como o cotidiano necessitam de sintonia espiritual. Quando acoplamos o agora-já  na obra de Artaud pode-se constatar o vigor visceral dos seus escritos, com certeza assim obtém-se uma poética alucinante, sutil, onde a crueldade do ser consigo mesmo, áurea rebelde, faz renascer toda uma perspectiva de cunho revolucionário, apaixonante e porque não cientifico.  É o que pretendo discutir. Apontar algumas intenções de Artaud de subverter a ordem do sistema vigente com o propósito de criar uma nova ordem social, a partir de uma revolução pessoal, utilizando como instrumento a rebeldia. Expor e discutir com o publico em geral e especificamente com aqueles que desejam mudar a ordem vigente que existem alternativas como apoio e que a arte é um excelente veiculo de transformação pessoal e social.
    


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