A Formiga e a Cigarra
Clube do Teatro
Peça teatral adaptada de conto popular por Maurílio Tadeu.
Personagens.: Narrador
Formiga
Cigarra
Coro
Cenário: Floresta tropical.
Narrador: (Entra em cena como um contador de histórias) Era uma vez em uma floresta tropical num verão quente escaldante, viviam ali juntos a diversas criaturas, algumas cigarras e formigas e entre elas, duas criaturas bem especiais.
Formigas: (Apressadas levando folhas nas costas vão de um lado para o outro, algumas vezes esbarrando umas nas outras).
Coro de Cigarras: (Cantam e dançam numa festa sem fim):
Eu
quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender...
Formiga.: (Carregando um pedaço de folha de árvore nas costas, o dobro do tamanha da Formiga, grande esforço e suando) Esse ano o clima está diferente, muito quente. Até quando a humanidade egoísta vai trocar os combustíveis fosseis por energia limpa? Meu Deus! Querem matar a todos!
Cigarra: Para que tanta pressa se ainda falta muito tempo para o inverno chegar? (Canta e Dança).
Ei você aí
Me dá um dinheiro aí
Ei você aí
Me dá um dinheiro aí
Não vai dar?
Não vai dar não?
Você vai ver a grande confusão...
Narrador: Enquanto isso a Cigarra deita de rola no canto, dança e celebra a vida. A formiga continua preocupada com o alimento, a COP30 e o saneamento básico.
Formiga: E esse cheiro de esgoto pra todo lado, fedor danado! Onde fica a questão do saneamento básico, dá dignidade das formigas? Que governança mais atrasada. Pobre de nós vivendo assim, com essa fornalha de sol quente no lombo e fedor de fezes pra todo lado. Quem aquenta isso. Ainda temos que trabalhar feito doidas, porque não sabemos mais nada sobre as estações, parece que a terra está doente.
Cigarra.: Mas que formiga mais preocupada com tudo, sempre foi assim. E quem é o homem para desequilibrar o clima da terra? Tem ano que é mais quente que outro, é assim mesmo, C’est la vi mademoiselle!
Formiga: Tem gente que é cega, será que não percebe que tudo passa rápido? Logo vem um inverno rigoroso, estamos ficando sem florestas, água potável e ar.
Cigarra: Pra nós, o que importa é só o presente, e quanto mais quente melhor, aflora nosso sistema corporal, as células ficar agitadas e assim podemos cantar mais alto e estridente. Vamos dançar, cantar e celebrar a vida.
Coro de Cigarras: (Canto e dança)
As águas vão rolar,
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar,
Eu passo a mão na saca, saca, saca-rolha.
Deixa as águas rolar...
Formiga: (Impressionada) Que cigarras malucas, onde já se viu não pensar no futuro nem ter um objetivo de vida?
Cigarra: De preocupação morre muita gente.
Formiga: Tem hora pra tudo, podemos divertir, mas antes vem nossa obrigação que é estudar, trabalha, depois brincar.
Cigarra: Olhem quantas folhas verdes, temos comidas pra dar e vender.
Formiga: Deixa-me ir, não adianta falar com cigarra teimosa.
Cigarra: Se conselho fosse bom, todo mundo ia vender queridinha. (Cantam)
Ui,
ui, ui...
Roubaram a mulher do Rui,
Você pensa que fui eu,
Eu juro que não fui.
Narrador: De repente o tempo passa, chega o inverno, começa um ar frio, as folhas ficam amarelas e já não serviam pra cigarras comerem. Assim ficava cada vez mais difícil cantar, e as cigarras continuaram celebrando até a última folha das arvores caírem.
(Uma formiguinha limpava a frente de sua casa cuidando dos últimos detalhes para enfrentar o inverno rigoroso, quando viu uma cigarra triste aproximar.)
Formiga: Dona Cigarra, que surpresa, quanto tempo não te vejo cantar! E que cara é essa? O que aconteceu?
Narrador: Agora, enquanto a neve caia, as formigas se recolhiam para as suas casinhas bem aquecidas, aconchegantes e com muita comida reservada para passar o inverno rigoroso. Enquanto a cigarra tremia de frio e fome. E orgulhosa não queria falar do sofrimento desesperador, tinha vergonha da sua necessidade. A formiga vendo aquela situação triste, perguntou:
Formiga: Fala! Não precisa ter vergonha. O que você tem pobre alma penada?
Narrador: Triste situação de quem passa necessidade e não tem coragem para falar a verdade. Como alguém com tamanha situação desesperadora ainda mente? Que falta de humildade.
Cigarra: Nada não, estou bem. É que eu peguei uma gripezinha muito forte, por isso não posso cantar.
Narrador: A Formiga ficou sentida com toda aquela situação de penúria, fome, doença e magreza extrema.
Formiga: Que pena dona Cigarra, de fato é uma situação complicada a sua, todo esse sofrimento e apatia. Desejo do fundo do coração que você se recupere o mais rápido possível.
Cigarra: (Muito abatida, fraca e pálida) Eu também espero que toda essa peleja e sofrência acabe logo, ninguém merece passar por isso, é muita humilhação e dor.
Formiga: Realmente.
Cigarra: E o pior é que ninguém ajuda, ainda xingam a gente de vagabunda, preguiçosa e que merecemos o que estamos sofrendo. Ah! dona Formiga, quanta falta de amor ao próximo.
Formiga. (Séria) Neste mundo plantamos o que colhemos, ou comemos o que carregamos.
Cigarra: E com todo esse frio vai ser dificílimo dona Formiga, resistir sem ajuda.
Formiga: A natureza não tem remorso, todo ano o frio mata milhares seres vivos, principalmente os mais fracos e descuidados. Você já tomou as vacinas contra gripe?
Cigarra: Não tive forças para ir na UPA, mau consigo dar um passo, estou muito fraca e debilitada, o sistema é bruto dona Formiga.
Formiga: Cruel mesmo.
Cigarra: Mas se você me der uma mãozinha, deixar eu entrar na sua casa aconchegante e com toda essa fartura de comida, eu vou melhorar, assim voltarei a cantar, daí posso animar o seu formigueiro neste inverno terrível.
Narrador: A Formiga consternada com toda aquela penúria deixou a pobre coitada da Cigarra entrar, forneceu comida e abrigo para a suas necessidades. E em agradecimento a cigarra voltou a cantar, dançar e celebrar a vida.
Cigarra: Muito obrigada Formiga, o seu acolhimento e bondade, acaba de salvar a vida de uma perrengue Cigarra descuidada, e sem noção de objetivos para o futuro. Preciso ser protagonista nesta vida.
Formiga: De nada, fico feliz com a sua recuperação.
Cigarra: De agora em diante vou ser mais cuidadosa, vou dividir o meu tempo com estudos, trabalho e diversão.
Formiga: Sim, verdade, podemos fazer tudo junto, é só aprender a administrar o nosso precioso tempo, organização é tudo. Ordem e progresso!
Cigarra: Tudo de mais e em excesso prejudicam a nossa existência.
Formiga: Verdade. E te ajudando aprendi também a ter compaixão do próximo, que não é só o trabalho que salva a vida, precisamos divertir também. A sua arte de cantar deu mais ânimo e alegria para o nosso formigueiro.
Narrador: Assim a Formiga e a Cigarra aprenderam lições importantes para a sobrevivência. A união faz a força e uma mão lava a outra. Caridade faz bem, mas a exploração é terrível. Precisamos trabalhar o tanto certo, assim como estudar e alimentar. Tudo na vida tem limites, com exceção da nossa imaginação. Passem bem respeitável público e viva a sua vida da melhor maneira possível, sem esquecer dessa bela lição da Formiga e da Cigarra. E gentileza e respeito fazem bem, e todos nós merecemos. Tchau! Meu querido e respeitável público.
Fim
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