O que estamos fazendo com as nossas vidas e com o mundo?
O que estamos fazendo com as nossas vidas e com o mundo? Todo ser humano nasce com uma potencia uma força que gera atividades, querendo ou não temos que realizar algo, porque ninguém consegue ficar inerte por muito tempo, essa é uma lei universal. A questão é, onde seria mais sensato e útil gastar essa energia vital? Sim, realizar obras boas no social, sem deixar de lado nossa realização pessoal. No entanto, não é tão simples assim a final são tantas as necessidades da humanidade, e tão péssima a nossa noção de prioridades que chega a doer o coração. Em minha opinião o sujeito necessita basicamente de moradia, alimentação, saneamento, saúde e educação (incluo aqui arte e cultura), vamos chamar esses cinco itens de MASSE; pois bem, esse deveria ser o foco das nossas atividades, onde deveríamos atuar com excelência a fim de conquistar os melhores patamares de qualidade possíveis no aqui agora. Por outro lado, temos que usar de bom senso para não perder de vista os parâmetros de exigências no que diz respeito às cobranças de metas; não precisa ninguém ser sacrificado, ou virar mártir, herói, santo, deus para se conseguir tal qualidade nos serviços. Quando vejo muita cobrança, seja do individuo consigo mesmo, ou da sociedade para com o individuo, sei que aí tem um grande engano, é ignorância mesmo perder o bom senso, sim somos todos ignorantes, já dizia nosso amado Sócrates, mas ser tolo é outra coisa; não é porque uma pessoa tenha saído da Caverna de Platão que tem o direito de humilhar ou forçar alguém a ver a luz; cada um é cada um e todos com o seu tempo e horário biológico, mais cedo ou mais tarde o sujeito acorda e começa a enxergar o mundo. Falo disso porque tenho notado excessos e radicalizações quanto às cobranças das realizações das metas de qualidades no MASSE, e por outro um descaso completo, ou seja, estamos falando de dois pólos opostos, uma grande maioria nem aí pra nada, esses eu chamo de potencia em potencial, querem o melhor, mas ainda não sabem focar a força para a realização de obras úteis, ficam perdidos entre o ter e o ser e acaba por acomodar-se numa poltrona; essas pessoas usam de medicamentos para bloquear a potencia a fim de ficar inerte, um grande desperdício de potencia; essas pessoas podem ser redespertadas, no fundo desejam isso, é a nossa natureza maior realizar obras úteis, fora disso tudo é ilusão e desperdícios tolos. Para concretizar obras temos que também saber curtir o ócio, mas falo do Ócio Criativo, nas bases já mencionadas e estudadas pelo ilustre mestre Domênico de Massi. Não nascemos para trabalhar em demasia e nem cobrar a perfeição de ninguém, isso é loucura e obsessão; também não sejamos largados de tudo, aí é o outro lado da doença. O que precisamos é saber lidar, ter jogo de cintura para desenhar bem a obra toda, só existe luz por que há sombras; e como já bem disse Foucault em seu livro A História da Loucura, nosso entendimento sobre a razão tem lá os seus graus de caos. O que vejo como caminho bom é aquele que nos uni por inteiro, o homem como um todo e não o ser fragmentado, se lermos alguns textos de Grotowiski e Artaud, isso aparece bem claro e como base para qualquer tentativa de interpretação da existência. Fritjof Capra em seu livro o Tao da Física também tem essa idéia de homem por inteiro, encontro entre as culturas do ocidente e Oriente, física e religião, razão e sentimentos. Vejo esse grande esforço de unificação da natureza humana por parte de alguns autores como tentativa de diminuir o impacto da esquizofrenia social na vida pessoal. Não preciso dizer que vivemos em um mundo agitado e bastante conturbado, um caos, a maioria das ideologias e sistemas doutrinários não possuem uma estruturação consistente quando confrontada com o rigor da luz da razão, este fato me impõe uma necessidade básica de interpretação pessoal além dos conceitos adotados pelo sistema social. A sobrevivência requer algo que vai além da razão, assim usamos das metafísicas, alquimia, transcendência, intuição, emoção, sentimentos, ou seja, pego tudo que estiver ao alcance a fim de manter a centelha sagrada acesa; é preciso colocar ordem no caos assim que abro os olhos pela manhã. Estamos na era da informação, um amontoado de sistemas, fios, ondas, banda larga, etc. E a informação passa a ser superficial quando o emissor não tem conhecimento suficiente da matéria ou, o receptor é leigo ou, na maioria das vezes lemos tudo na correria, e como sabemos o apressado come cru. É crucial para uma vida saudável o individuo sacar o seu tempo biológico, temos um ritmo natural, é terrível para a vida como um todo, a pessoa sentar numa mesa e comer mecanicamente, é um desrespeito conversar com alguém pensando o realizando uma tarefa, e o que mais vemos hoje é isso. Se essa geração não tomar ciência da vida vai se estrepar do mesmo jeito que as gerações anteriores, como fala aquela letra de musica tão bem interpretada por Elis Regina, mais cedo ou mais tarde copiamos os nossos pais. As gerações passadas tiveram os seus méritos, mas cometeram um grave erro, os excessos de todo tipo, ainda faltaram sensibilidade e disciplina no cultivo dos bons hábitos. Temos uma infinidade de prazeres advindos do comportamento saúde, hoje sabemos que até água de mais faz mal, então pra que causar sofrimento em demasia em nossa vida, não precisa machucar nosso organismo com atitudes tolas, e quem não se ama jamais conhecera o amor, porque pra ser amado, antes preciso me amar. Sabemos que a prioridade da maioria das pessoas hoje é o dinheiro, mas quem se preocupa em saber se esse sistema ao qual o mundo globalizado se rende é o mais justo para todos? Quem se preocupa em ler Marx, Walter Benjamim, Brecht, e todos aqueles autores que esmiuçaram esse sistema e encontraram falhas terríveis na estrutura e aplicabilidade do método? O melhor profeta é a história. É preocupante seguir ideologias as cegas, não é a toa que a principal atitude de um bom filósofo, é a duvida, assim não poderia deixar de fazer aqui uma homenagem a Sartre, Aristóteles, Diógenes de Sinope, Santo Agostinho, Nietzsche, Confúcio, Pascal, Shopenhauer, Descartes, Paulo Freire, Heráclito, Kant, Hegel, Rousseau, Epicuro, Santo Anselmo, Galileu Galilei, Buda, Freud, Campbell, Jung, Jesus, Kierkegaard, Piaget, etc. Uma turma da pesada que nada mais fizeram além de construir e desconstruir sistemas teóricos e práticos com objetivos de desenterrar a “Verdade”, em busca do melhor modelo humano. A boa gente é nosso guia, no entanto devo ter minhas próprias experiências, sem isto jamais compreenderei o grito humano na sua aventura pela vida. É muito importante e prazeroso saber que não estamos sozinhos, que temos uma infinidade de vidas caminhando junto a nós, em expansão infinita. Cada dia é uma nova oportunidade, uma bagagem a mais a favor de um sistema que realmente seja a favor e não contra a vida. O fluxo esta na vida. Sim há vidas sendo geradas, há vidas vivenciando o presente, há vidas que se foram e que virão, estamos construindo um mundo, um lugar onde todos possam viver com dignidade, justiça e amor. Muitos têm consciência, outros não. Sei que não há felicidade maior do que a do homem que sabe e pode concretizar obras úteis e que funciona, onde o bem seja a base que tudo penetra. Se o louco não sabe que é tresloucado, dor maior também não há de sentir a consciência que vê atos insanos, não se deve ficar atordoado com as tragédias, nem insensível a ela, porque esta na obra da recriação toda oportunidade de cura. O artista tem o dom, sabe parar o tempo em movimento para assistir os detalhes perdidos pela mente menos observadora, sua missão é tornar esses detalhes visíveis a todos, e para isso tem todo o universo das infinitas linguagens a seu favor e para isso lança mão até de concretizar o indizível. Sei que não sei o que estou fazendo com a minha vida, mas sei que coisa ruim não é, caso contrario não sentiria tão bem quando vou dormir, tenho a consciência tranqüila, deito e durmo bem, no entanto não deixo minha cabeça folgar no travesseiro porque muitas obras ainda ei de acabar, começar e terminar, até o dia que Deus aos Anjos me levar; então de lá novas ondas ei de mandar, ondas feito tijolos de musicas para novas obras realizar. Então vem noite, vem ninar este corpo fatigado de lavorar, que meu ser entre na estação do gozo descanso, onde apenas os trabalhadores honestos sabem tomar o trem dos bons sonhos, para no dia seguinte realizá-los com gratidão.
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