Banco das Ilusões
O que o pobre coitado do homem não tem que fazer para ganhar a
sobrevivência. Veja só no cotidiano da política, o candidato precisa prometer
aquilo que não é capaz de realizar, e depois de eleito faz das tripas o coração
para justificar as mentiras da campanha. Seria tão mais honesto ele dizer que
mente porque precisa do salário para satisfazer suas necessidades e vícios;
seria tão mais homem se o político assumisse a sua doença de poder, é mais
interessante o sujeito se despir diante do eleitorado e falar a verdade. O que
vemos nas campanhas é um show de palanques regrado à hipocrisia. O candidato
vende a esperança como o psicanalista vende o seu tempo para ouvir o indizível.
O político se transforma no ópio doutrinário de palanque, assim como certas igrejas,
templos e terreiros, distribuem a salvação em troca do dinheiro. Apenas a
própria pessoa pode tirar ela da ignorância. Esses vendedores da mentira são
como os comerciais de bebidas alcoólicas e a indústria de remédios, que prometem
a cura, vendem a ilusão aos doentes em troca de moedas que por sua vez lhes
darão a possibilidade de adquirir outros grilhões. Um círculo vicioso. É duro
não ter consciência para ver a complexa realidade humana. O homem faz de tudo para
enganar a natureza eterna e bela. Se o político praticar a essência do ser, vai
ter que dizer a verdade ao publico, e a maioria não deseja saber da realidade. A
maioria depois de experimentar a dor da existência, quer mais é uma boa dose de
enganação, morfina, seja ela filosófica, religiosa, artística, política, ou drogaria
mesmo. Para os miseráveis que não podem comprar a morfina, vão de craque,
maconha, cocaína, álcool puro, fármacos, ou o que der, vale até mesmo os
anestésicos abstratos. E ser enganado pelos discursos ideológicos,
doutrinários, psicanalíticos ou, sabe-se lá o que, faz parte, desde que afaste
o sujeito da real, o vazio é insuportável para muitas pessoas. Então paga-se
para ser enganado. E o que não falta é gente disposta ao discurso da mentira, e
também pessoa obcecada por representar papeis fantasiosos. O pregador da mentira
possui o olhar do vício, não se importa com a humanidade. O interesse do
vendedor de fantasias bem como a visão de que tem do mundo, não vai alem da
medíocre consciência da corrupção, e do seu comparsa comprador de ilusões. Pregador,
político, publico, cliente e eleitores são dependentes uns dos outros. É uma
espécie de suicídio coletivo, onde a ilusão trocada nos bancos da hipocrisia, nos
palanques, ajuda a passar o tempo do tédio. Tudo é valido para adquirir a droga
que causa tal sensação fingida do enganar o tempo; afinal, a angústia da
existência sofrida, precisa ser esquecida; até que a misericordiosa morte
decepe o umbral ilusório. Creio
que a desonestidade entre os homens leva a este estado de desespero.
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