Werner Herzog – AGUIRRE, A COLERA DOS DEUSES.
Filme Alemão de 1972, de uma realidade incrível; baseado em fatos reais do diário de Frei Gaspar de Carvajal, que
participou da expedição. A busca pelo El Dorado (A lendária cidade de ouro), o
lugar onde se encontra as delícias do prazer, e a riqueza. Herzog mostra um
homem possuído por este ideal de lugar, e que não mede consequências, nem os
limites do corpo para possui-lo. A expedição espanhola de 1561, composta por
Dom Pedro de Urzúa e Lope de Aguirre, representantes da corte; mais igreja, soldados e
escravos; todos seguem floresta adentro, enfrentam todo tipo de adversidade que um lugar "primitivo" oferece, habitado apenas por índios e animais. O México já tinha sido descoberto; agora o colonizador espanhol
tinha a ambição de ir ao encontro de novas riquezas, desejava principalmente
o ouro do El Dorado. O homem dentro do
desconhecido, no seu limite, obrigado a enfrentar um mundo ainda intocado pelo branco. Este é o cenário perfeito
para mostrar o caos, e incertezas do tempo das descobertas. O filme não se limita a fatos
históricos, busca expor o homem dentro do esgotamento físico, chegando literalmente ao delírio. À medida que a expedição
adentra a floresta, surgem conflitos dos mais variados, a ambição toma conta do
meio. A relação entre os personagens passa por momentos constantes de explosão de tensões, com disputas de poder
entre corte, soldado, e igreja; e também instantes completamente de apatia, atemporal,
de um torpor enlouquecedor para uma pessoa acostumada a agitação das
cidades europeias. A corte preocupada em tomar posse de tudo e de todos vai
registrando as novas terras; que são divididas ali mesmo entre rei, igreja e
soldados. Os escravos, incas e negros, sonham
apenas em comprar a liberdade, vivem o dilema do homem acorrentado. Toda a ferocidade obsessiva compulsiva do
colonizador espanhol vai aos poucos sendo derrotada pelo ambiente hostil dos
índios inimigos, floresta e águas. O olhar brilhante do homem que sonha o paraíso
do El Dorado, aos poucos muda com os obstáculos no caminho. A impossibilidade
das relações, uma incomunicabilidade que leva a pessoa a ficar com olhar
vago, perdido no horizonte incerto e agressivo. O filme é universal porque
foca no problema do esgotamento físico, da absurda falta de limites; na relação humana do jogo de interesses; na norma rígida da hierarquia; da burocracia artificial que sufoca a todos; problema que ultrapassa várias gerações e séculos, típico de uma sociedade hipócrita. Sistema é patriarcal, as duas únicas mulheres da
expedição, jovens e belas, quase não tem voz, ficam à mercê da vontade dos
lideres; mulher frágil e dependente. Todo aquele
ambiente “selvagem”, para a cultura vigente, necessitava da força bruta do
homem para ser domada, e a mulher naquele meio hostil não tinha condições
(devido aos costumes) de pelejar de forma igual com o homem; era necessário lutar contra índios,
carregar canhão e bagagens, cortar árvores, preparar balsas, o sistema ali é bruto. O filme mostra a expedição
colonizadora que “não dá certo”, que é derrotada pela adversidade da situação
do momento; o fracasso do sonho do El Dorado. Na verdade a maioria das
expedições em busca de novas terras foi tremendos fracassos. É o que acontece hoje em dia, muda apenas o objeto do desejo, cenário, e figurino. A maioria das
pessoas tombam antes de atingir a realização do sonho, ficam pelo meio do
caminho, vitimas do esgotamento físico e mental.
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